domingo, 26 de agosto de 2012

Falsas Aparências

Bem, já à algum tempo que não escrevo, mas como na maioria das vezes só escrevo para dizer mal, tenho que deixar as pessoas uns tempos sem terem nada para dizer de mau a meu respeito, só para abafar a coisa.
Acontece que com aquela entrevista da Margarida Rebelo Pinto a falar mal  gordas, não podia deixar passar em branco tal acontecimento. Pelo que vi já há imensa gente que a esta a mandar pó caralho, e eu própria o fiz mentalmente, mas tenho a dizer que estou bastante desiludida com ela, sendo que desde os meus 12 anos ela era a minha escritora preferida, li quase todos os livros dela, e agora a puta deu-me uma facada nas costas, até podem agora começar a mandar bitates a dizer que as gordas se ofendem com qualquer coisa e não é preciso tanto drama para esta merda, mas eu discordo, acho mesmo que por se ignorarem situações como estas é que vivemos num mundo de discriminação.
Mas voltando à puta da Margarida, estou mesmo fodida com a gaja, eu a pensar que ela era uma bacana liberal, muito abrangente, mas aquilo que ela mostra nos livros, não é bem o que ela é na realidade, as aparências iludem.
E é mesmo verdade, as aparências iludem, quantas vezes julgamos que uma pessoa é uma coisa, e na realidade é outra completamente diferente, isto acontece no bom e no mau sentido. Normalmente temos uma impressão das pessoas à primeira vista que nos dá a ideia de um individuo contrario à sua realidade. Ou quantas e quantas vezes dizemos "não estava nada à espera que esta pessoa fosse assim, nunca ia imaginar". Pois é, é necessário ter muito cuidado com quem falamos, a quem sorrimos, com quem simpatizamos, por vezes essas pessoas não são bem o que demonstram, e isto acontece tanto em pessoas que acabamos de conhecer, como com aquelas que "julgamos" conhecer à imenso tempo.
Porque é que há pessoas que enganam tão bem? É que essas pessoas deviam concorrer todas a uma escola de teatro, porque passavam todas nos castings e tinham todas imenso sucesso. É tão triste sermos enganados desta maneira. Ou quando há pessoas que nos sorriem e que simpatizam connosco e por detrás  só dizer merda a nosso respeito.
Mas é que as vezes as pessoas chegam mesmo a cair no ridículo, aquela típica conversa quando chegamos a  uma festa e nos dizem "ai estás tão gira", mal viramos costas e dizem "ai já viste bem? aquela roupa fica-lhe tão mal", e lá vamos nós todos contentes com a auto estima elevada e a puta ou o cabrão que nos disse isso a rir-se dá nossa cara. Mas sabem no meu caso o que eu acho mais giro? É aquelas pessoas que me dizem "ai tenho tanto orgulho em ti, és uma gordinha tão linda, vestes-te tão bem, tens uma personalidade tão forte e admiro-te tanto como és" e na realidade pensam e dizem (nas minhas costas claro) "aquela tá gorda que nem uma vaca, já olhas-te bem para ela? que abutre, mais valia estar no peso pesado", e o mais lindo desta conversa é saber que também pessoas gordas dizem isto de mim, não é fantástico? é a mesma coisa que um africano dizer "não gosto de pretos".
Caras pessoas, tenham cuidado com as vossas falsas aparências, porque mais tarde ou mais cedo serão descobertas, não sejam fingidas porque tudo se sabe, e vale mais admitirem logo o que são do que caírem no ridículo e na farsa de parecerem o que não são.
Bem haja.
Inês da Silva

domingo, 5 de agosto de 2012

Outra questão de peso


Sempre gostei de falar de peso.
Não sei se é por ser gorda,  se é por querer marcar alguma diferença nesse contexto, mas a verdade é que é uma temática que me atrai. No meu texto anterior "uma questão de peso" falei um pouco sobre os estereótipos que se criam à volta da sociedade, mas acho que me faltou um aspecto fulcral, que foi falar de mim e da minha história e da minha visão interior (de uma forma mais abrangente), em relação a mim e à minha maneira de ser neste contexto. 
Portanto...
Eu até aos cerca de 5, 6 anos de idade fui bastante magra, mas depois apareceu um problema de saúde que eu não sei bem qual é (nem me interessou sequer saber) e isto associou-se a problemas de tiroide e etc que são uma merda e que nunca dei muita importância. 
Mas a verdade é que fui engordando e deparei-me com uma serie de problemas que tive de enfrentar na minha vida.
Antes de mais acho que a minha vida  se fundiu sempre em duas perspectivas. Por exemplo na minha infância, tinha os namoricos como as outras crianças, tinha amigos que não gozavam comigo, etc. Por outro tinha as crianças maldosas que gozavam comigo e que não me respeitavam, e faziam a minha vida num inferno, sabendo que as crianças ainda não são muito racionais e não tem bem a noção o que é ser politicamente correctas. 
Até ao inicio da adolescência, ser gorda era o meu grande problema, não gostava de mim, era discriminada, era vitima de bulling, os outros adolescentes eram muito maus comigo, e a minha vida era um autentico inferno, até que, não sei se por ter mudado de ares, que a minha vida deu uma volta de 180º.
Passei sobretudo a aceitar o que eu era. Aprendi a gostar de mim, a valorizar-me, a perceber que haviam mais perspectivas do mundo e de beleza, e o facto de ser diferente não tinha quer ser um aspecto que me diferenciava de uma forma negativa, mas duma forma positiva.
E pelo menos a minha mente começou a mudar, não tinha que continuar dentro do armário, eu sabia que nunca ia ser magra, portanto só tinha duas hipóteses: ou atirava-me da ponte abaixo, ou mudava de vida e aprendia a viver. E sem mais nem menos mudei de vida.
Comecei a ter interesse por mim, a arranjar forma de me favorecer, de me por "mais bonita", e alias foi aqui que nasceu o meu amor pela moda, e acima de tudo a sair sempre de casa com um sorriso.
A coisa mais importante que podemos fazer quando temos algo que nos diferencie dos outros e que no geral se ache que é um aspecto negativo, é tentar por a situação a nosso favor e marcar a diferença.
Se eu sou gorda é por algum motivo, foi o que pensei, e também foi a partir desse momento que eu decidi criar um conceito de "gorda" um bocado diferente do que conhecia. 
Passei a sair à noite, a ter vida social, a ir às compras, a usar as roupas de que gostava, a ser vaidosa comigo própria, a aproveitar a vida.
E sou assim até hoje. 
Até à data essa mudança trouxe-me mais aspectos positivos que negativos. Sou diferente, não sou só mais uma  gorda dentro de um baú, sou uma gorda se distingue de muitas, que gosta de si e que se vê que se aceita como é. 
Sei que existem e sempre existiram pessoas que me recriminarão e que me gozam, e que dão mais valor ao meu aspecto do que à minha maneira de ser, mas contrariamente haverá sempre aqueles que me amam da forma que eu sou, com cada pedaço de gordura ou celulite a mais, amando o meu exterior e o meu interior.
E eu amo-me, como sou, com todos os meus aspectos, e senão conseguir atingir o meu propósito na vida, que é mostrar a esta sociedade que as pessoas não se define pelas suas curvas, mas pelo seu carácter, e que uma rapariga gorda também é linda e maravilhosa, pelo menos abrirei o caminho a muitas raparigas como eu que lutam pelos mesmos objectivos. Ou mesmo que a influencia não seja assim tão grande, que possa mostrar pelo menos a todas as meninas gordinhas que "me lêem", que podem ter uma visão do mundo e de si totalmente diferente, que podem amar o que tem e a sua vida e usar isso para ser feliz e que lhes sirva da inspiração para mudarem de vida.
Desta forma o meu trabalho, o meu corpo, o que passei, o que ainda irei enfrentar, não serão de todo em vão.