Não poderia deixar passar esta situação sem falar
dela. Gosto de fazer comparações, apesar de existirem coisas incomparáveis, mas
o bullying é para mim um contexto geral, e que a única definição é magoar outra
pessoa só porque sim.
Não percebo sequer o que vai na cabeça das pessoas
que o praticam, por mais que tente é injustificável, não aceito tal crueldade.
Na altura em que eu era mais nova também eu sofri
desse mal. Na altura nem sequer existia a palavra bullying, chamava-se “gozar”.
Eu era a dita menina gorda, que chamavam de tudo e
mais alguma coisa. Ouvia piropos quando passavam por mim na escola. Por
incrível que parece eram sempre as mesmas pessoas, e a gravidade da minha
situação é que eu achava que o problema era, eu é que era gorda, eu é que era
diferente das outras pessoas, vivia num meio pequeno, pouco ou nada sabia do
mundo, sentia que pertencia a outro planeta, na minha cabeça eu era uma
aberração, porque os outros gozavam comigo, chegou a haver mesmo situações em
que me empurravam, que davam chapadas, ou os meus amigos que me defendiam eram
agredidos.
Mas paralelamente a ser se agredido é a vergonha,
nós temos vergonha de passar por isso, naquela altura para admitir que sofria
de bullying eu tinha que admitir que não era normal, que não era igual aos
outros. Eu tinha vergonha de ser eu, de ir para a escola, de passar nos sítios
onde essas pessoas, eles gozavam e eu não respondia, baixava a cabeça, por
dentro sentia me revoltada, comigo, com o mundo, culpava os meus pais, culpava
me a mim própria, culpava tudo a minha volta.
Até que mudei de lugar, de casa, de vida, de mim
própria, e ai percebi que existiam outras pessoas, outras ideias, outras
tolerâncias, outras pessoas como eu, outras pessoas diferentes com outras
diferenças.
Ao longo do tempo tenho reconhecido que a diferença
não tem que ser vista como uma coisa negativa. Eu não tinha nada de mal, eles é
que tinham, todos os praticantes de bullying é que tem, eles é que são
diferentes, eles é que são maus.
Isto tudo para dizer que todas as pessoas que sofrem de bullying tem
medo, tem vergonha, querem esconder, porque por momentos sentem que o problema
é deles.
É preciso uma grande aceitação das pessoas ao nosso
redor para nós percebermos que o que nos fazem não está correto. Quando alguém
nos chama “gordo” ou “preto” ou “maricas” e alguém próximo de nós diz “não
ligues”, não é de todo o mais correto porque só nos dá a sensação que quer
dizer “come e cala-te”. Nós precisamos pessoas que nos defendam, que lutem por
nós, que se manifestem, se se calarem estão a ser pior que nós. Não nos deixem
ouvir e calar, não nos deixem baixar a cabeça, façam com que sejamos mais
fortes que a própria força.
Não queria acabar este texto sem agradecer às
pessoas que fizeram das minhas palavras as deles, que se manifestaram, que me
defenderam que deram a cara por mim que me ajudaram a perceber que eu não sou
normal, sou especial, e que o ser diferente por vezes é bom, eu hoje sou forte
com o que aprendi e com as pessoas que me ensinaram que os obstáculos são sempre
contornáveis!
Um muito obrigado.
Muitos parabéns Inês! Tão à tua altura. Tão bom, tão rápido e tão simples. É isso mesmo. Sabes o que vales, que é muito. O silêncio pesa muito, mas palavras certeiras pesam tão mais! Beijinho cheio de orgulho!
ResponderEliminarGostei muito Inês, espero poder fazer parcerias entre nós.
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